CLUBE MV30

CLUBE MV30

Começo pelo Clube MV30 os meus comentários sobre boates eróticas do Centro do Rio. Geralmente, os bordeis e boates eróticas no Rio de Janeiro gostam e gostavam de usar a denominação de clubes, o que não deixa de ser verdadeiro, pois são clubes fechados para o um público masculino que busca mulheres que trabalham para atendê-lo de forma íntima.

Conheci a MV30 em 1993, eu era funcionário em uma grande estatal na Praça Mauá e fui levado por um amigo até o paraíso camuflado da Rua Mayrink Veiga. Era uma época em que o Centro fervilhava de gente, de pontos de lazer, bares, uma realidade absurdamente diferente da atual.

A MV30 ficava próxima ao famoso Beco da Sardinha, que agora também sofre os reflexos da decadência do Centro do Rio. O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) somado a uma política talvez errática da prefeitura, que restringiu profundamente as vagas de estacionamento para carros nas ruas e avenidas, certamente foram fatores que cultivaram a desertificação que vemos hoje.

Em 1993, a MV30 ainda pertencia a um português talentoso no ramo, a casa transbordava de gente todos os dias, uma quantidade relevante de mulheres bonitas desfilava seminua, fazendo com que os clientes se espremessem entre essa presença feminina. Um clima de flerte e euforia funcionava como elemento viciante que ajudava a fidelizar o retorno dos homens que frequentavam o local.

Visitei essa boate por quase toda a década de 90 e emendei minhas visitas também neste novo século. Em determinado momento, o proprietário original, o tal português, migrou para outra boate que começava a se estabelecer, a Quatro por Quatro, na Rua Buenos Aires, que se tornaria referência internacional.

Não me lembro ao certo em que parte da linha do tempo a MV30 começou a decair, provavelmente no início deste século, mas a decadência se deu em progressão geométrica e hoje é um estabelecimento que sobrevive ofegante fincado na área que se tornou a mais desolada do Centro da Cidade. 

Quando dissertamos sobre casas como a MV30, só temos como transmitir uma atmosfera nostálgica. As boates apelidadas como Termas decaíram de forma geral em solo carioca, algumas fecharam as portas e outras, como a MV30, apenas sobrevivem. São espaços imensos que se tornaram elefantes brancos com a queda brusca de receita, com o efeito devastador da pandemia.

Confesso que sinto saudade das tantas noites em que me diverti, em que conheci mulheres belíssimas, de um lugar em que compartilhei muitos prazeres na companhia feminina. Sinto saudades, mas não vontade de voltar ao que é hoje.

Os gestores cariocas desse tipo de boate são poucos criativos, não se adaptaram corretamente às transformações do tempo, às modificações de um mercado transformado pela Internet, pelas Redes Sociais e pelo esvaziamento comercial e empresarial do Rio. Ficaram num passado em que abriam a porta e contavam dinheiro. Não se importavam em conquistar e fidelizar clientes, tudo acontecia sem muito esforço.

Os tempos mudaram, mas quem gerencia esses locais manteve a mente fechada e sente dificuldade em sustentar estruturas que se tornaram maiores do que a receita que geram. As grandes Termas representam uma época que se foi, que ecoa poucas possibilidades de retorno, sofreram a erosão implacável do tempo. É triste, há muita melancolia em assistirmos a morte de cenários que pertenceram à nossa biografia, mas seria pior seria negar a realidade.

Jornalista. Professor de Língua Portuguesa, Escrita e Literatura. Editor. Escritor.

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