Brisa

BRISA

A Help, saudoso e difamado inferninho, um épico de Copacabana. Cravada na Av. Atlântica, a boate confrontava orgulhosa o oceano, sem esconder a sua vocação libertina. Templo preferido das garotas de programa e dos gringos peregrinando em busca de aventuras sexuais.

Em muitas ocasiões, me serviu como refúgio, abrigando meus solos pelas madrugadas. Por dentro, uma festa psicodélica, guardava as dimensões de um coliseu, com paredes revestidas de lantejoulas azuis e a pista iluminada por estroboscópios refletidos em enormes globos espelhados. Sobreviveu à virada para o século 21 como um cenário imutável dos anos 80. Hoje, demolida, está perto de virar o Museu da Imagem e do Som. Ali jaz a luxúria, fossilizada e morna sob o mausoléu de concreto.

Foi entre amazonas, caçadores e forasteiros que ela despontou da arena erótica e me pediu uma cerveja. Morena e bonita, não neguei a gentileza. Bebemos e conversamos por algum tempo, até que a jovem me disse que não queria trabalhar naquela noite e me convidou para sentar à beira da praia e esperar o Sol nascer. Estranhei o chamado, mas aceitei. Acomodados na areia, me ocorreu que eu não havia perguntado o nome da mulher.

“Brisa” — ela me responde. Imaginando que fosse apelido de guerra, perguntei pelo nome real.

“É Brisa” — confirma mostrando a carteira de identidade com registro na Bahia.

Que força milagrosa carrega a natureza. Cultiva flores em desertos e sopra brisas poéticas na penumbra árida dos porões humanos. Consegue inspirar uma prostituta a abdicar da grana, apenas para assistir os primeiros raios do dia ao lado de um homem qualquer. Então, com um beijo delicado, a alvorada banhou-se no mar.

Dante Versus Sade

DANTE VERSUS SADE

Dante é o alter ego do autor deste blog, Sade é o ícone de uma pornografia que camuflava o ideário político e libertário do escritor. O que poderia haver em comum entre dois autores separados pelas areias do tempo?

Sade nasceu no século XVIII, presenciou o alvorecer do século XIX e integrou fatos que mudaram o rumo da história da França e do Mundo: a queda da Bastilha, a Revolução Francesa e a ascensão de Napoleão Bonaparte. Nesse ínterim, ele escreveu suas obras. Repletas de pornografia, perversões e crimes que servem para contrabandear uma filosofia insubordinada. A literatura de Sade marcaria espaço além de sua época.

Dante nasce no século XX e observa as primeiras luzes do século XXI. Vive a Revolução digital, o surgimento estrondoso da Internet, testemunha o atentado terrorista que abalou o coração da maior potência do Ocidente (EUA) e convive com as incertezas climáticas de um planeta que começa a se ressentir da presença do homem. E é pela Internet que o nosso autor descobre que a libertinagem idolatrada por Sade continua sendo uma face incendiária da humanidade.

Navegando pelo universo virtual, Dante descobre os fóruns de sexo e decide conhecer de perto a prostituição. A voz da narrativa se faz através do protagonista, é dele que surgem os relatos verídicos dessa viagem libertina.

Dois autores, dois mundos. Em comum, a presença da pornografia em suas literaturas, a afirmação do erótico. O vulgar ornamentado com joias de valor; o libertino como um herói que desafia os costumes.

Sade foi um valente indomável que jamais desistiu de suas letras, mesmo encarcerado a maior parte da vida. Talvez, o Dante também traga em si uma dose de heroísmo: torna-se fanático por uma liberdade ilusória que o mantém acorrentado aos próprios instintos. Ambos corrompem a ideia que se espera de um cidadão convencional e nos fazem desconfiar que, na verdade, todos os heróis legítimos são subversivos.

Ser Libertino

SER LIBERTINO

Em sua concepção moderna, o termo libertino refere-se aos pensadores e literatos europeus que se abstraíam dos princípios morais do seu período, como aqueles relacionados à moral sexual, sendo caracterizado também como um hedonismo extremo.

O libertino é um lobo desgarrado, renunciou à matilha. É filho do destino, não de uma escolha voluntária. É consequência das desilusões, do longo celibato, da ausência de filhos. Em quase todos os casos, o libertino é o último da sua linhagem, sem descendentes reconhecidos ou conhecidos, “não deixa a ninguém o legado da nossa miséria”. Para um libertino, a vida é uma experiência que ele realiza através das viagens boemias e da luxúria intensa. Viver é ousar, o lema dos libertinos. O sexo como última fronteira, a noite como habitat, o amor como armadilha, a solidão como fé.

Para um libertino, não há nada de melancólico em estar só, a solidão é a alma absoluta da sua liberdade, uma liberdade tão pujante que pode ser perigosa, que ele mal sabe como usar. O libertino nasce do seu próprio acaso, como quase nunca se reproduz está sempre à beira da extinção. É espécie rara e noturna. O sexo para um libertino é como a jugular pulsando sangue diante de um vampiro, é fome ancestral e insaciável. A cada orgasmo, ele se vê diante de um corpo morto, é preciso outro, mais outro e mais outro.

A marca Os Libertinos surgiu em 2018, criada para um grupo de WhatsApp que tinha como membros indivíduos que se conheceram em fóruns sobre erotismo e encontros sexuais, majoritariamente homens que buscavam prazer como mulheres liberais. O grupo do WhatsApp acabou, mas a ideia permaneceu. Tentaram clonar o nome, porém nunca alcançaram o seu espírito. Ideias podem ser roubadas, mas o sucesso é intransferível. Aqui renasce um blog que irá registrar as jornadas boemias e libertinas com histórias surpreendentes e baseadas em casos reais, por mais que possam parecer incomuns. Existem muitas pretensas cópias de Os Libertinos por aí, mais eis aqui o original.

Não se imita um libertino, não se copia. Um libertino é aquele que se torna libertino, não aquele que apenas escolhe ser. Liberte-se.