Valentina
A cama é o ninho da luxúria, é o território onde repousamos nossos cansaços, onde mergulhamos nos sonhos, é o solo sagrado onde experimentamos o sexo, o orgasmo, o amor e a traição. A cama foi o camarote de onde assisti a quarentona de codinome Valentina emergir nua do chuveiro, com seu corpão irretocável, caminhando ainda úmido em minha direção. Encarava-me sorrindo com um olhar leve e selvagem.
Em momentos como esse, tudo entra em suspensão automática. A respiração pausa, os olhos esbugalham-se, a mudez nos domina. Um mulherão de beleza inquestionável, seu rosto lembrou o da atriz Giovanna Antonelli, principalmente o sorriso. É sarada, bunda digna de capa de revista, voz levemente rouca e sexy, barriga chapada. Linda e simpaticíssima.
Aqui é que reside a magia dos bordeis, podemos escolher, conversar, beber e nos divertir. Nenhuma sala de garota em algum prédio esquisito nos oferece isso. O bordel não é a manchete objetiva e fria como são os consultórios das freelas, há no puteiro o pulsar da vida e dos deleites de viver. Você faz o sexo e volta para se embriagar mais, para escolher outra, para mais conversas, esbarra com camaradas da libertinagem.
Não me surpreende que muitos foristas escrevam relatos como se ditassem prontuários médicos de alguma UTI com alto índice de falecimentos. O que eles experimentam é o sexo triste. Quando acaba, realmente acaba. Não há celebração, só o gozo e o coito definitivamente interrompido. No bordel… Ahh… no bordel, não. No bordel, quando termina o sexo, o prazer se estende, o orgasmo se amplia, a alegria permanece, ali somos eternos.
Óbvio que falo dos bons bordeis, que se tornaram raros e padecem da ameaça de extinção. A boate La Confraria, na rua da Quitanda, está entre os puteiros que resistem e que abrigam o clima ancestral da boa luxúria. Elenco com meninas bonitas, receptivas, não há censura ao beijo no salão, a música nos embala e é possível manter conversas relaxadas com as moças que nos agradam.
Conversei muito com Valentina, contou-me boa parte de sua vida, é uma mulher extremamente sedutora do alto da sua vasta experiência. É aquela puta que nos conquista e você fica com vontade de escrever “FODAM-SE TODOS VOCÊS” . Eu quero mais é me envolver, despencar em paixões, sentir o coração bater. O resto que se foda.
Disse a ela que só saio com mulheres que gostam de beijar na boca e que beijam com vontade.
— Só vamos saber se o beijo irá agradar se provarmos, né? — ela me responde antes de enfiar a língua na minha traqueia, no melhor estilo do ósculo roto-rooter. Cheguei a ficar sem fôlego.
Pedi uma alcova.
Retornamos à cena em que Valentina sai nua do chuveiro, corpo úmido, caminha com passos de pantera em direção à cama, aproximando-se dos meus olhos esbugalhados pela emoção de presenciar aquele milagre em forma de fêmea.
A mulher avança sobre a minha reação perplexa, nos abraçamos, nos beijamos mais, ela me oferece os seus seios indefectíveis, eu os mamo como um faminto recém-nascido. Valentina geme, me acaricia inteiro, desce a cabeça e me chupa com vontade de extrair seiva. O ritual se estendeu por longos minutos, em que ondas vulcânicas alertavam sobre uma possível erupção de espermas.
Prepara o terreno e monta sobre a minha virilha, encaixa o meu combalido pênis em sua vagina escaldante e rebola, quica, remexe, pressiona. Foi demais para este velho escriba, lancei meus espermas no látex num ato impiedoso, todos sufocados na euforia insana da busca frustrada pelo útero.
Após ressuscitar da pequena morte, prossegui na conversa com Valentina. Mulher apaixonante. Fodam-se todos vocês — é o que eu escreveria duas vezes . Que arte rara domina a concubina capaz de nos despertar a paixão. O tempo acabou, nos despedimos.
De volta à pista da boate, pedi um martini que saboreei devagar. Fiquei contemplando bundas desfilarem para os meus olhos. Terminei a taça, paguei a conta e desci. A rua da Quitanda estava silenciosa e deserta, pisei com minhas botas sobre os paralelepípedos, o som seco dos impactos foi abafado pela música que vazou dos meus aparelhos auditivos sincronizados com o celular…
Naquela rua em penumbras, a noite se desenrolava como um tapete vermelho me convidando para a próxima morte, para a próxima ressurreição, para a próxima aventura. Porque o libertino vive e a noite pulsa…