A despedida

Anoitecia em Copacabana, fim de tarde de céu avermelhado e límpido. O trânsito estava intenso naquele início de dezembro de 1994, eu desfrutava das férias ao lado de Karin, apaixonado. Esperávamos o táxi que a levaria ao aeroporto, ela decidira voltar à velha Europa, primeiro para a Espanha e em seguida para a Inglaterra, de onde ela tinha sido deportada anos antes. Prometia voltar, mas a minha paixão intensa por ela dilacerava qualquer inocente esperança. O táxi aportou, ela embarcou carregando a única mala que levava e eu a acompanhei.

Já escrevi sobre Karin, uma gaúcha bonita ao seu modo, inteligentíssima, que conheci por um anúncio nos classificados do finado Jornal do Brasil, uma mulher que hoje eu poderia classificar como acompanhante de luxo. Morava na rua Tonelero quando a conheci pelo telefone, o nosso primeiro encontro também foi a nossa primeira noite juntos. Talvez, ela tenha gostado de mim, fomos ficando, dormíamos juntos, ela não me cobrava, não me exigia nada e cultivava a minha presença. Os quase três meses que passei ao seu lado, me envolvendo visceralmente com ela, resultou na inevitável paixão febril que me tomou o corpo e a alma.  

Karin tinha uns 25 anos, sofisticada, classuda, um corpo irretocável, cabelos loiros, olhos verdes e um sotaque do Sul ainda forte. Falava inglês fluentemente, fluência que conquistou nos seus anos morando em Londres. A garota foi um sonho, décadas se passaram e a memória dela ainda exala frescor em minha mente.

Ousei, apresentei-a a minha família, levei-a em minha casa e planejava, secretamente, uma vida com ela. Entre nós, havia a Europa e a profunda rejeição de Karim pelo Brasil. Convidou-me para ir com ela e eu, num gesto que me arrependerei até o fim dos meus dias, recusei-me a ir, aleguei que preferia esperá-la e preparar uma estrutura para quando ela retornasse. Nunca retornou, casou-se com um inglês, teve dois filhos e mora no interior de Londres.

Karin uniu em mim o amor romântico e o desejo da carne. Eu agonizava de uma atração abissal por ela. Nossa despedia foi um jantar triste, em um restaurante extinto de Copacabana, que se localizava em frente à Praça Serzedelo Correia. Quando cruzo por ali, não vejo mais a praça, não vejo a rua, não vejo os carros nem os pedestres, só vejo o jazigo de uma parte de mim. Existem pessoas e lugares que se tornam buracos negros da nossa existência.

A paisagem até o antigo aeroporto do Galeão ia se desfazendo em sombras diante dos meus olhos, tudo se desconstruía conforme o automóvel avançava. Eu ia de mãos dadas com ela, em silêncio, como lançado em uma oração inútil perdida entre todas as orações inúteis. Se um dia amei alguma mulher, essa mulher foi Karin, uma garota de programa que amava mais os próprios projetos, a própria ambição e a futilidade de querer ser uma inglesa que jamais será inglesa de fato.

Feito o check-in, ela precisava ir para a área de embarque. Seus olhos verdes, seus cabelos loiros, seu corpo impecável, no fundo eu sabia que aquela seria a última oportunidade para contemplar a sua presença. Um abraço, um beijo amargo na boca e ela começou a caminhar enquanto o abismo se abria entre nós. Antes que desaparecesse, olhou para trás, olhou para mim e sumiu na névoa labiríntica dos desencontros. Cartas, alguns telefonemas, uma ausência que me esmagava. Nunca mais, nunca mais — me gritava o corvo de Edgar Alan Poe.

Nunca mais. Ficou-me a cicatriz, um desses poucos ferimentos capazes de dizimar um libertino. Por sorte, em mim foi um ferimento que sangrou, sangrou de morte, mas fortaleceu a carcaça das minhas emoções. Não demorou para que a minha natureza mundana imperasse sobre o sofrimento poético. Mesmo assim, todas as vezes que atravesso Copacabana, que passo pela rua Tonelero, ouço o corvo me amaldiçoar…

— Nunca mais, nunca mais…

A fera camuflada

A FERA CAMUFLADA

Aos quarenta e cinco anos, ele ganhara a aparência de um homem distinto. Fazia uma década que havia constituído família, esposa e uma filha que amava imensamente. 

Mantinha uma rota rigorosa entre o escritório de advocacia, no Centro da cidade, e sua residência no Largo do Machado. Recusava os constantes convites de colegas e clientes para beber e confraternizar nos animados bares da Praça XV. Foi seguindo uma disciplina austera, mantida por muitas regras e mandamentos, que conseguiu escapar da Fera que o perseguia desde os primórdios da sua adolescência. Preferia nunca negligenciar a vigilância. Tinha medo do Animal e o pressentia espreitando em cada esquina sombria. 

Ao descer do prédio onde trabalhava, na Rua México, firmava os passos em direção ao Metrô. Evitava olhar os painéis de néon porque eles representavam perigo. Luzes noturnas encantavam a Fera.

Não ouvia música, não ingeria bebidas alcoólicas, repudiava conversas informais com mulheres. Na missa dos domingos, agradecia a concessão da sua apática existência. Entretanto, sabia que o Animal o estudava e tramava com cruel paciência, numa tocaia incansável. Mas ele não descuidava, não esquecia da Fera camuflada.

Entrava em casa, abraçava sua mulher, afagava a filha, respirava a atmosfera segura do seu apartamento, orgulhava-se por continuar ludibriando o monstro. Tomava o banho frio de todos os dias, jantava, assistia o noticiário da TV, beijava fraternalmente a esposa, deitava-se e dormia.

Havia noites em que a Fera dominava seus sonhos, manipulava seus pensamentos. Ele acordava suado, possuído por uma incontida ansiedade. Erguia-se, tomava outro banho, sua esposa tentava acalmá-lo, o acariciava, lembrava-lhe que era somente um pesadelo. Por solidariedade, faziam o sexo contaminado pelo mofo do hábito. Sua inquietude aplacava-se, ele adormecia.

Às sete horas da manhã o despertador tocava, mas ele permanecia preguiçoso na cama. Sua companheira apressava-se para preparar o café. Lentamente, ele realizava seu asseio matinal. Depois, sentava-se à mesa, ligava a televisão para saber das primeiras notícias, trocava umas poucas palavras com a mulher, comia seu pão aquecido, refletia entre os goles do café misturado ao leite e saía para o trabalho.

A parte da manhã era o período em que relaxava, não existia a suspeita da Fera, ele não a sentia nas primeiras horas da sua rotina. O animal não gostava do alvorecer.

Um expediente agitado, era o que ele rogava antes de chegar ao escritório. O corre-corre espantava o chacal, o guardava a uma segura distância. Burocracias, protocolos e a adrenalina de um dia produtivo eram a alvenaria que constituíam a sua fortaleza. 

Seu cotidiano cinza eram movimentos de uma sinfonia monótona e monofônica, mantinha entorpecida a Fera que o rondava. Mas a fome engendra o ataque e o instinto trapaceia a razão.

Naquela noite, ao sair do escritório, seu roteiro narcotizante seria corrompido por um vírus letal a qualquer mecanicismo: o imprevisível. 

Marchava reto em direção ao Metrô, concentrando-se na própria respiração, mas o seu silêncio interior foi rachado por uma voz grave e rouca chamando seu nome. Era um senhor que prestava serviços de contínuo no escritório e que o tratava com paternal simpatia. O idoso o agarrou pelo braço, contou que aniversariava e, com um sorriso suplicante, o convidou para se sentarem juntos por alguns minutos num botequim próximo. Ele tentou recusar, mas o senhor insistiu explicando que morava só e não desejava passar em branco aquela data. Contrariado, porém, tocado pela solidão do velho, aceitou o convite. 

Quando deu por si, brindava constrangido aos 65 anos daquele homem. Cada tulipa que era colocada à mesa fazia escorrer pela garganta o chope gelado que rompia, como foice, a teia secular que abafava a sua fala. De repente, o mundo tomou cor como um ressuscitado, as luzes brilharam quase ofuscantes e ele escutou a própria voz. Todo o seu corpo estalava, como se voltasse de uma letargia involuntária. Riu de si mesmo.

Abraçados, deixaram o bar, ele e o velho. Juntos, entraram num táxi e foram até a Praça Mauá. Conduziu o idoso até um sobrado da Rua do Acre, onde o mesmo morava. Num caminhar tortuoso e incerto, prosseguiu a jornada, até subir os degraus de um inferninho que avistou no trajeto.

Música alta, fumaça de cigarro, mulheres seminuas, cheiro de lascívia. 

Uma ruiva bonita se aproximou com as curvas expostas por um minúsculo biquíni. Ela pergunta seu nome, apoia-se em seu corpo, beija sua boca. Ele sente uma fisgada, foi como se afrouxassem, subitamente, um torniquete. O sangue represado voltou a circular por todas as suas veias esclerosadas pelo tédio. Ele a abraça com ânsia, sente uma sede diferente, uma sede ancestral.

Ela o guia a um pequeno quarto, deixa cair o biquíni, ele a beija afoito, necessita da sua saliva. A sede aumenta, os membros se entrelaçam, a carne se funde. Ela se coloca de quatro, submissa, implora que ele a possua. Ele obedece. Uma brasa, que parecia consumi-lo de dentro para fora, faz com que se sinta febril. Transpirava com todos os poros.

Por um grande espelho, preso ao seu lado, ele vê sua imagem. Seus olhos irradiavam uma vibração oca. Não era ele, era a Fera, ela o havia devorado pelas vísceras e o tomado para si novamente. Dele, só restava uma tênue fagulha de consciência. O Animal nunca o rodeou, esteve sempre dentro da trincheira protetora que ergueu ao seu redor. Não havia mais alma, só havia a sede do orgasmo. Ele era a Fera!

Entra em casa, respira a atmosfera morna do seu apartamento. Explica, mentindo, o atraso e o bafo de álcool à esposa: foi pego de surpresa pelo aniversário do chefe. Afaga a filha, toma um banho morno (como há muito tempo não fazia) e janta assistindo a TV. Recolhe-se ao quarto, beija fraternalmente a companheira, deita-se, lembra da ruiva e dissolve-se no prazer de sentir a gradual falência da mente. Ri de si mesmo. Adormece e não sonha.

A catraca

A CATRACA

Hoje, só sobrevivem do tal lupanar o trauma de ex-virgens acuados e as reminiscências dementes de idosos nostálgicos da distante e desbotada virilidade.

Aconteceu no meio de uma tarde ensolarada. Bateram à minha porta e avisaram que havia chegado a hora. Como se tudo já estivesse combinado, o pai empilhou uns tostões na minha mão, me colocaram num carro e parti para o desconhecido.

Quem visse o meu semblante tenso, poderia supor que me conduziam à força para o DOI-CODI, nunca imaginariam que aquela viagem tinha como destino o crepúsculo da minha insossa inocência pelo alvorecer temperado da luxúria. O trajeto, por caminhos tortuosos, embalou na subida de uma ladeira no Rio Comprido, mergulhou num túnel esquecido e desembocou na enigmática Rua Alice.

Como se não bastasse o pânico do novilho ameaçado pelo abate, incomodava-me a ideia de um randevu localizado numa via batizada com o mesmo nome da minha bisavó. Para um garoto recém-catequizado, a sugestão do pecado ganhava sons incestuosos e desestimulantes. Não demorou para que estacionássemos em frente àquela fastuosa mansão cravada às margens do nobre bairro de Laranjeiras. Que vista! Rodeada pela paz da paisagem bucólica, erguia-se a rosácea e imponente construção, cercada por um muro que lhe dava o aspecto de fortaleza. Se me afirmassem que era um convento, eu acreditaria. No centro da murada, um arco apresentava o portão destrancado, acesso que se abria para os mistérios da carne. Ignorando as minhas pernas trêmulas, a boca seca, a voz afogada, meus companheiros me empurraram para o interior da arena das leoas. Entrei em cena como um personagem inútil, jogado de última hora nas páginas do Decamerão.

Recordo, com certo pudor, que as minhas primeiras manifestações libidinosas ocorreram quando eu assistia ao seriado “Jeannie é um gênio”. A imagem erotizada daquela odalisca loira piscando os olhos me causava a precoce mágica incompreendida e constrangedora da ereção. Talvez, Barbara Eden tenha sido o símbolo sexual de uma geração de ingênuos.

Por dentro, o casarão de Laranjeiras lembrava um cabaré rústico de filmes do velho oeste americano. O piso de madeira, mesas espalhadas por um amplo salão de grandes janelas escancaradas que revelavam a curiosidade de árvores indiscretas. Sentamos e nos serviram uma cerveja. A alguns metros de nós, uma bela balzaquiana, de pele clara e longos cabelos lisos, fumava abstraída do ambiente. Um dos meus camaradas mais desembaraçados a selecionou como protagonista da minha temida estreia. Nunca me esqueci do nome da mulher: Selma.

Ela se aproximou, perguntou o meu nome e me estendeu a mão… num ato de submissão, não resisti. Caminhamos juntos até a beira de uma longa escadaria que levava aos aposentos superiores, Selma me soltou, seguiu por uma brecha lateral e apontou o local por onde eu deveria subir. Estaquei perplexo diante da visão: uma catraca, semelhante às roletas que reinavam nos ônibus antigos.

Com a mente perturbada por aquele momento crucial, ao qual me lançavam sem manual de instruções, me apaguei a imagem da catraca. Fiquei fascinado. Como poderia um puteiro alcançar tal inteligência? Freud sofreria orgasmos antes do sexo ao perceber que a catraca assumia o significado mais perfeito da prostituição. Como são cruéis as traduções exatas do universo. Um sujeito cruzou meus olhos e atravessou insensível os braços abertos da roleta, eles estalaram e imediatamente o contador em sua base fez girar os números que se assemelhavam a uma carreira de dominós caindo uns sobre os outros. Não havia romance, não transpirava amor, apenas a fria e exata sequência matemática. Aquele vislumbre mecânico aquietou meus sentidos e como a Selma me aguardava no topo da escada, entreguei-me ao abraço gélido da catraca. Fui mais um dígito intrépido acrescentado ao milhar. Subimos à alcova…

Um imenso quarto de teto alto, uma velha cama de casal, uma pia com sabão de coco e papel higiênico formavam o kit libertino. Selma perguntou se era a minha primeira vez, não sei se ela compreendeu a resposta, pois eu só conseguia balbuciar. Ela tirou a roupa e imitei a coreografia. Ela se deitou e eu me joguei ao seu lado olhando para o teto, que parecia estar a quilômetros de distância. Ela toca no meu segredo, na profunda intimidade do meu ser. Sinto uma forte descarga elétrica percorrer o corpo, um torpor de todas as sensações. Acabou. Não havia mais nada a fazer, a não ser pagar.

Ao sair, não precisei passar pela catraca. Dígitos descartados não contam. Os amigos perguntavam como tinha sido a experiência, continuei balbuciando. Não perdi a virgindade naquele dia, mas descobri a ejaculação precoce. Estive na Casa Rosa e a catraca não me deixa mentir. Jurei sobre o sêmen que escreveria este capítulo. A catraca é o mundo.

Brisa

BRISA

A Help, saudoso e difamado inferninho, um épico de Copacabana. Cravada na Av. Atlântica, a boate confrontava orgulhosa o oceano, sem esconder a sua vocação libertina. Templo preferido das garotas de programa e dos gringos peregrinando em busca de aventuras sexuais.

Em muitas ocasiões, me serviu como refúgio, abrigando meus solos pelas madrugadas. Por dentro, uma festa psicodélica, guardava as dimensões de um coliseu, com paredes revestidas de lantejoulas azuis e a pista iluminada por estroboscópios refletidos em enormes globos espelhados. Sobreviveu à virada para o século 21 como um cenário imutável dos anos 80. Hoje, demolida, está perto de virar o Museu da Imagem e do Som. Ali jaz a luxúria, fossilizada e morna sob o mausoléu de concreto.

Foi entre amazonas, caçadores e forasteiros que ela despontou da arena erótica e me pediu uma cerveja. Morena e bonita, não neguei a gentileza. Bebemos e conversamos por algum tempo, até que a jovem me disse que não queria trabalhar naquela noite e me convidou para sentar à beira da praia e esperar o Sol nascer. Estranhei o chamado, mas aceitei. Acomodados na areia, me ocorreu que eu não havia perguntado o nome da mulher.

“Brisa” — ela me responde. Imaginando que fosse apelido de guerra, perguntei pelo nome real.

“É Brisa” — confirma mostrando a carteira de identidade com registro na Bahia.

Que força milagrosa carrega a natureza. Cultiva flores em desertos e sopra brisas poéticas na penumbra árida dos porões humanos. Consegue inspirar uma prostituta a abdicar da grana, apenas para assistir os primeiros raios do dia ao lado de um homem qualquer. Então, com um beijo delicado, a alvorada banhou-se no mar.

Dante Versus Sade

DANTE VERSUS SADE

Dante é o alter ego do autor deste blog, Sade é o ícone de uma pornografia que camuflava o ideário político e libertário do escritor. O que poderia haver em comum entre dois autores separados pelas areias do tempo?

Sade nasceu no século XVIII, presenciou o alvorecer do século XIX e integrou fatos que mudaram o rumo da história da França e do Mundo: a queda da Bastilha, a Revolução Francesa e a ascensão de Napoleão Bonaparte. Nesse ínterim, ele escreveu suas obras. Repletas de pornografia, perversões e crimes que servem para contrabandear uma filosofia insubordinada. A literatura de Sade marcaria espaço além de sua época.

Dante nasce no século XX e observa as primeiras luzes do século XXI. Vive a Revolução digital, o surgimento estrondoso da Internet, testemunha o atentado terrorista que abalou o coração da maior potência do Ocidente (EUA) e convive com as incertezas climáticas de um planeta que começa a se ressentir da presença do homem. E é pela Internet que o nosso autor descobre que a libertinagem idolatrada por Sade continua sendo uma face incendiária da humanidade.

Navegando pelo universo virtual, Dante descobre os fóruns de sexo e decide conhecer de perto a prostituição. A voz da narrativa se faz através do protagonista, é dele que surgem os relatos verídicos dessa viagem libertina.

Dois autores, dois mundos. Em comum, a presença da pornografia em suas literaturas, a afirmação do erótico. O vulgar ornamentado com joias de valor; o libertino como um herói que desafia os costumes.

Sade foi um valente indomável que jamais desistiu de suas letras, mesmo encarcerado a maior parte da vida. Talvez, o Dante também traga em si uma dose de heroísmo: torna-se fanático por uma liberdade ilusória que o mantém acorrentado aos próprios instintos. Ambos corrompem a ideia que se espera de um cidadão convencional e nos fazem desconfiar que, na verdade, todos os heróis legítimos são subversivos.

Ser Libertino

SER LIBERTINO

Em sua concepção moderna, o termo libertino refere-se aos pensadores e literatos europeus que se abstraíam dos princípios morais do seu período, como aqueles relacionados à moral sexual, sendo caracterizado também como um hedonismo extremo.

O libertino é um lobo desgarrado, renunciou à matilha. É filho do destino, não de uma escolha voluntária. É consequência das desilusões, do longo celibato, da ausência de filhos. Em quase todos os casos, o libertino é o último da sua linhagem, sem descendentes reconhecidos ou conhecidos, “não deixa a ninguém o legado da nossa miséria”. Para um libertino, a vida é uma experiência que ele realiza através das viagens boemias e da luxúria intensa. Viver é ousar, o lema dos libertinos. O sexo como última fronteira, a noite como habitat, o amor como armadilha, a solidão como fé.

Para um libertino, não há nada de melancólico em estar só, a solidão é a alma absoluta da sua liberdade, uma liberdade tão pujante que pode ser perigosa, que ele mal sabe como usar. O libertino nasce do seu próprio acaso, como quase nunca se reproduz está sempre à beira da extinção. É espécie rara e noturna. O sexo para um libertino é como a jugular pulsando sangue diante de um vampiro, é fome ancestral e insaciável. A cada orgasmo, ele se vê diante de um corpo morto, é preciso outro, mais outro e mais outro.

A marca Os Libertinos surgiu em 2018, criada para um grupo de WhatsApp que tinha como membros indivíduos que se conheceram em fóruns sobre erotismo e encontros sexuais, majoritariamente homens que buscavam prazer como mulheres liberais. O grupo do WhatsApp acabou, mas a ideia permaneceu. Tentaram clonar o nome, porém nunca alcançaram o seu espírito. Ideias podem ser roubadas, mas o sucesso é intransferível. Aqui renasce um blog que irá registrar as jornadas boemias e libertinas com histórias surpreendentes e baseadas em casos reais, por mais que possam parecer incomuns. Existem muitas pretensas cópias de Os Libertinos por aí, mais eis aqui o original.

Não se imita um libertino, não se copia. Um libertino é aquele que se torna libertino, não aquele que apenas escolhe ser. Liberte-se.