Carol

Carol

CAROL – https://fatalmodel.com/1911151/carol-cortez

Noite. Na amplidão da Rodoviária Novo Rio viajantes aguardavam e movimentavam-se descoordenados. Quando entrei no ônibus, alguém ouvia Homem-Aranha — do Jorge Vercillo — pelo celular com o som aberto, aquilo me pareceu um mau agouro. Convidado por um amigo professor, eu estava indo à montanhosa Teresópolis para dar um tipo de palestra sobre leitura e escrita em um renomado colégio da região, um seminário.

O trajeto foi tranquilo, excetuando-se pela criatura que obrigou o ônibus inteiro a escutar repetidas músicas do Vercillo. Percebi que a canção “Que nem maré” devia ser a preferida, pois foi reprisada umas 5 vezes durante a viagem.

QUE NEM MARÉ

Quase duas horas depois, ancoramos na rodoviária de Teresópolis. Eu teria que dormir na cidade para comparecer cedo à escola no dia seguinte. Meu amigo não teve como me buscar na rodoviária, mas já havia um quarto reservado para mim no Hotel Intercity, próximo de onde aportei.

Ao desembarcar, percebi que uma neblina intensa tomou a cidade. Não havia táxis no ponto em frente. Acionei um aplicativo que orienta rotas e decidi me arriscar a ir a pé. O tal aplicativo me orientou a seguir pelos fundos da rodoviária, por onde margeia um valão. Confiei e fui caminhando meio manco, pois para além de complicações gástricas, agora estou com crises de locomoção.

A cada passo dado, eu me embrenhava por um território cada vez mais escuro. As trevas acentuavam-se pelo intenso nevoeiro. Comecei a me sentir em um romance do Stephen King. Tropecei em uma pedra e em seguida ouvi um forte grunhido. Tenso pela topada e pelo estranho som, prossegui ainda mais manco pela rota indicada. Um grito agudíssimo penetrou nos meus aparelhos auditivos. Que porra é essa? — pensei.

Continuei caminhando por lugar nenhum com a impressão de que não chegaria a lugar algum. Os grunhidos ganharam ritmo e tive a impressão de que algo se arrastava atrás de mim. Acelerei meus passos. Foi quando ouvi uma voz com sotaque de Mussum surgir do nada.

— Tranqulis, meu filho. Tranquilis. É gambá. Tenha medo não. Tão porcurando comida.

Quando olhei para ver quem falava, vejo um idoso com uma barba branca imensa, um chapéu pontudo e o rosto completamente enrugado. Cheguei a supor que eu havia desembarcado na Terra Média, não em Teresópolis. Era um clone do Gandalf que tentava me acalmar. Se o Frodo aparecesse, eu infartaria.

Depois que o Gandalf me informou que não conhecia o hotel, desisti de seguir a rota tenebrosa do aplicativo. Pedi um Uber e emparelhei o meu celular com os aparelhos auditivos. O som de Zero invadiu os meus castigados tímpanos.

AGORA EU SEI

Finalmente, cheguei ao Hotel Intercity, que se localiza em uma área bucólica e serena da cidade, na rua Rui Barbosa, um nome que me pareceu auspicioso. Desabei na cama e adormeci sem intervalos.

Quando acordei, abri a janela do quarto e vi um sol emoldurado por um céu azul capaz de estragar velório.

Cumpri o compromisso e falei para uma turma de atentos adolescentes. Sabendo que sou um velho degenerado, o meu amigo me chamou para dizer que tinha marcado um encontro para mim com sua profissional preferida. Mostrou-me as fotos e o anúncio. É um presente meu, vai lá — ele sentenciou. Libertinos são generosos.

Gostei das fotos e do estilo da moça. O encontro estava marcado para as sete horas da noite, o que me obrigaria a permanecer mais um dia em Teresópolis. Os quinze graus de temperatura não me motivavam muito a sair do hotel, mas não poderia fazer desfeita ao meu camarada.

— Dá para ir a pé do hotel até lá. É tranquilo. Vai olhando o Google Maps.

A palavra “tranquilo” definitivamente é mal utilizada na serra. Acionei o Google Maps e fui caminhando como um Indiana Jones em busca da arca perdida. Tudo parecia certo, nenhum gambá me fez tocaia. No final da rota fiquei confuso, mas terminei por avistar a rua. Rua? Não, não era uma rua, era uma colina.

Sinceramente, hesitei em começar a escalar a montanha. Nenhuma boceta vale um pulmão. Infelizmente, o instinto de um libertino sempre supera o bom senso. Subi. Precisava chegar em uma casa de portão branco, segundo as referências que me foram oferecidas, mas o portão branco nunca chegava. Imaginei alcançar o portão de São Pedro, mas nunca o portão branco. Houve um momento em que delirei, olhei para trás e vi os meus pulmões correndo, tentando me alcançar. Eu já estava à beira de um colapso quando avistei o portão branco. Meus olhos marejaram, me emocionei. Nos meus ouvidos, o som do Metrô completava a comoção. Tirei uma foto da vista.

JOHNNY LOVE

Toco a campainha, bato palma, grito o nome e nada. Se depois daquela escalada ninguém me recebesse é porque Agronopólos, o protetor dos libertinos da terceira idade, me lançou à desgraça. Como último recurso, telefonei para a menina.

— Oi — ela me atendeu.

— Estou aqui na porta, agendado para as 19h.

— Ahh! Esqueci de você. Só um minuto.

Esqueceram de mim após eu ter escalado um cover do Everest. Era o que faltava. Aguardei. Logo o portão branco foi liberado. A porta da casa se abre, entrei e vi diante de mim uma divindade. Carol é muito mais exuberante pessoalmente. É linda. Ela me abraça, me beija e me conduz a uma das incontáveis suítes da casa.

Cama de casal, meia luz. No teto, um projetor de imagens exibia planetas e estrelas. Carol tira a roupa e exibe sem pudores o seu corpo absolutamente perfeito e sarado. Uma poesia.

Peço que ela se deite e me lanço sobre o seu corpo com todo o meu peso. Beijo sua boca e ela me beija de volta com língua, saliva e lábios enroscados. Lambo seu pescoço, seus seios, sua barriga, sua vagina, cada pedaço daquela mulher é uma sublimação. O tempo inteiro, ela geme baixinho, sussurra palavras ininteligíveis, mostra que quer mais. Carol é um belo final de carreira para qualquer libertino ancestral.

Inverte a posição e vem por cima do meu tronco. Esfrega perigosamente o seu clitóris sobre a minha breve manifestação fálica. Esfrega e geme. Gemidos, esses enigmas provocantes e indevassáveis do universo. Desce o rosto e me beija, sem parar de se esfregar no meu combalido pênis.

Fica de lado, lança a bunda para o alto e me abocanha em um boquete sideral. Na projeção do teto, planetas, estrelas, a Via-Láctea como testemunhas. Carol é um conjunto de curvas vertiginosas. Com a voz suave ronronando, é intensamente sexy. Chupava meu pau, meu saco, fazia garganta profunda, alisava as minhas pernas… Eu apertava a sua bundinha irretocável, dedilhava o cuzinho, a vagina.

Saquei o aparelhinho de eletrochoque e coloquei sobre o clitóris da garota. Se contorceu, gemeu mais alto e soltou uma frase com uma sensualidade tão absurda que continuo ouvindo até agora…

— Ai, amor. Eu vou gozar…

Confesso, ao ouvir o jeito como ela expressou o aviso, eu tive um orgasmo psicológico. E ela gozou feroz e maravilhosamente.

Carol voltou a me chupar e me masturbar e eu ejaculei pela fé na religião mais abraçada pelos libertinos da terceira idade, o masturbiticismo. Meus espermas lançaram-se eufóricos à atmosfera e quando viram que estavam no topo de uma montanha, despencaram abnegados no abismo mortal. Luto. Silêncio ofegante.

— Poxa, nem perguntei seu nome — ela diz.

— Dante. Meu nome é Dante.

Antes de me despedir, supliquei para que Carol venha atender no Rio, mas não sei se a ideia irá seduzi-la. Sob uma chuva fina, desci a colina da lascívia com a leveza de um cabrito. Nos meus ouvidos, o som de Lobão fechava a trilha sonora da maratona. Deitei-me na cama do hotel, dormi e não sonhei.

ME CHAMA

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