O Saara é aqui

—𝐎𝐒 𝐋𝐈𝐁𝐄𝐑𝐓𝐈𝐍𝐎𝐒 — 𝐀 𝐅𝐎𝐓𝐎𝐍𝐎𝐕𝐄𝐋𝐀

—𝑬𝑷𝑰𝑺𝑶́𝑫𝑰𝑶 𝑫𝑬 𝑯𝑶𝑱𝑬: 𝑶 𝑺𝑨𝑨𝑹𝑨 𝑬́ 𝑨𝑸𝑼𝑰—

Se eu já não sou de perambular durante o dia, imagine nos dias em que a rua exala o bafo de uma fornalha. Caminhando pela rua Uruguaiana após o almoço, houve um momento em que pensei enxergar fumaça subindo das calçadas, tive medo de ser vaporizado repentinamente. Devido ao calor, diante do mal-estar, a única imagem que me despertava a libido naquele instante era a de um ar-condicionado. Eu poderia fazer contrato de união estável com o ar-condicionado, poderia ter filhos com ele se fosse possível, formar família, comprar um apartamento do Minha Casa minha Vida e ser feliz pela eternidade ao lado de um refrigerador de ar.

Precisava passar pela loja do RioCard para desbloquear meu vale-surdo, mas quando vi a fila de pessoas suadas, se dissolvendo nos próprios fluidos, desisti. Eu estava cansado, arfando de tanto calor, prestes a ser vítima de uma congestão. Quando olho para o outro lado da rua, avisto a entrada do inferninho U24. Assolou-me a ideia pouco recomendável de entrar, sentar um pouco e tomar uma cerveja gelada para recompor o meu DNA que estava quase gaseificado. Entrei.

Acredite, forista sem fé. Não sei o que estava mais quente, a rua ou o interior do U24. Se na rua eu pensei ver fumaça subindo das calçadas, no interior do inferninho eu supus ver chamas emergindo do chão. Fervia. Ao apoiar a mão na parede, senti uma quentura de queimar epiderme.

Preferi me acomodar no segundo piso, a minha vontade era ficar nu, exibir minha pança para escandalizar o mundo, romper os paradigmas do corpo sarado. Eu estava perto do delirium tremens. Peguei a cerveja, não tão gelada, e me sentei em um canto qualquer para exercer a contemplação. Passou um sujeito de chinelo e camiseta vendendo cigarros a varejo, comprei, seria uma forma de tentar mudar o foco do calor. Estava tão quente que o tabaco quase entrou em combustão espontânea.

Se eu pretendi ficar nu, muitas mulheres estavam seminuas no local. Senti um cheiro estranho, como se alguma tampa de esgoto estivesse aberta. Talvez fosse uma impressão febril da minha mente perturbada pelas altas temperaturas.

Não avistei nenhuma lebre interessante até que, de repente, entrou uma morena exuberante, emoldurada por um biquíni minúsculo, completamente destoante das mulheres que estavam presentes. Um colosso de fêmea que me fez expelir uma exclamação nada britânica.

— Caralho!

Não, afeiçoado forista. Não era um caralho, era uma vagina, mas o cérebro não segue a associação correta das palavras nessas horas. A menina foi até o fundo da pista, cochichou com uma coroa gordinha que me pareceu a líder sexual do andar, a gordinha serviu a ela um drink e a morena voltou o rosto para olhar o salão.

Sei o que você está imaginando, afeiçoado: “o Dante é velho, está fora de forma, não vai conseguir foder nesse calorão, dentro de um inferninho de quinta categoria, em um dia de 50 graus na cidade”. Tudo correto, mas o que você não levou em conta é que sou bem resolvido com as frustrações sobre o meu desempenho venéreo. Não ligo se, ao invés de foder, me foder. Acontece. O libertino é um rebelde, mas também é um resignado.

Aquela mulher não ficaria sozinha por muito tempo. Urgia me adiantar. Acenei, a menina nem sorriu. Acenei novamente, ela me detectou no ambiente e se aproximou.

— E aí, gato? Vamos namorar?

Esse tipo de pergunta me condena a dez anos de impotência genital, mas tudo bem, decidi superar em consideração ao porte voluptuoso da moça que expressava o questionamento. Disse-me que havia uma promoção, 85 reais por uma hora. Aceitei.

Quem conhece as baias do U24 entenderá a minha descrição, os colchonetes são latifúndios de ácaros, o lençol deve ter pertencido a Dona Beja antes de parar ali. Você entra e começa a sentir coceiras. É um horror. Dizia vovó, porém, que aquilo que não mata, fortalece. Vamos em frente.

Meu pau não subiria nem com o auxílio de um guindaste. Com a barriga transbordante de massas do Coliseu das Massas, com os poros sobrecarregados pelo clima incandescente, nem se Jesus Cristo aparecesse e gritasse “Levanta-te, Lázaro” — nada aconteceria.

Ficamos aos beijos, esfregadas, mamei os peitinhos duros, alisei a bunda, deixei que ela me aplicasse um boquete e tenho certeza de que a sensação que a menina deve ter desfrutado foi a de lamber uma maria-mole. Eu me despedi antes de terminar o tempo. Nenhuma surpresa, não esperava mais do que isso. A garota se apresentou como Pietra, comentou que também faz ponto na 44, o que me fez concluir que realmente os bordeis de luxo acabaram.

Quando voltei para a Rua Uruguaiana, foi como desembarcar em uma cidade do interior do México. O calor insistia.

Caminhei até a Rua da Assembleia, entrei em um táxi e pedi ao motorista que tocasse a toda velocidade para a bucólica Tijuca. Olhando as ruas castigadas pelo Sol, comecei a crer que seremos extintos da mesma forma que foram os dinossauros. Até lá, a saga continua…

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