Paulo Francis: o iconoclasta

Paulo Francis: o iconoclasta

“Por que persistirmos nessa ilusão? Literatura no Brasil, como de resto quase tudo, é feita para a classe média e desta para cima. Essa gente admira Jorge Amado porque acha divertidas as suas histórias, porque partilha a generosa visão do autor sobre os fracos e oprimidos ou, o que é mais provável, as duas coisas. O povo cava o seu suado que pague a geral nos estádios ou vê televisão, comprada a prestações”

—Paulo Francis

Costumo dizer que se eu fosse uma ovelha, seria a ovelha negra. Por isso, Paulo Francis me inspira, não pelas posições política e sociais, não concordo com muitas, mas pela fluidez do texto, pela capacidade de mexer com pensamentos acomodados, pelas reações passionais que desperta quando emitia opiniões. O que seria do mundo se não houvesse os que caminham na contramão.

Como Francis, às vezes recebo uns conselhos meio chinfrins, de gente que não me conhece e me nivela pelo clichê. Estou longe de ser um clichê emocional. Por isso também aprecio ler a obra que Paulo Francis deixou. Para quem consegue assimilar o seu estilo, estará agregando muito à própria escrita.

Sabendo que o personagem é controverso, que na reta final se tornou um arauto da direita política, mesmo assim não posso negar, nesta leitura tardia que faço de “Diário da Corte”, um incontido prazer ao ler os seus textos, ao percorrer as linhas em que ele descreve generosamente o Brizola e em outros que discorre sobre diversos temas e personalidades. Um iconoclasta com carisma e que sabia produzir conteúdo. Goste dele ou não, na paisagem árida e paupérrima do jornalismo atual, Paulo Francis faz falta.

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