Cancun

CANCUN

Frequento a Cancun desde a inauguração, dividida entre boate e uisqueria, onde sempre preferi ficar. Foi e ainda é um ambiente agradável, agora restrito somente ao bar, pois a boate fechou. Peguei a época do simpático maître argentino, sempre me atendeu bem. Infelizmente, como todas as boates do Centro, a Cancun decaiu na qualidade ao mesmo tempo que ainda eleva os preços do seu cardápio de opções.

Sexta-feira, fim de tarde. Paro em um boteco raiz no Beco dos Barbeiros e dou uma calibrada antes de entrar na Cancun.

Recepção fria do porteiro, que se limita a entregar a comanda. Esse porteiro pouco simpático sempre me abisma por ainda estar por lá.

Olho a tabela, o programa mais barato, de 30 minutos, custa 300 reais. O programa de 1 hora está 380 reais.

Além disso, temos os 70 reais mínimos de consumo obrigatório.

Resultado, casa vazia em uma sexta-feira em um suposto horário de pico.

Pouquíssimas garotar realmente bonitas, destaque para a loira Mia.

Não tive coragem de gastar mais de 500 reais por uma bimbada na casa. Saí no zero a zero. Na saída, a caixa me questiona o porquê de eu não ter feito programa.

Até quando esse pessoal vai continuar tentando manter valores que não condizem com a realidade e com aquilo que oferecem? A 65 fechou porque a realidade se impôs, a 502 agoniza eternamente, a 44 vive ainda da fama e a Cancun parece se contentar com a mixaria que circula pelas mãos dos raros clientes que ainda a frequentam.

É preciso mudar o modelo.

Red Light, a glória da Praça da Bandeira

Red Light, a glória da Praça da Bandeira

Não sei se é a idade que nos deixa nostálgicos ou, no meu caso, se sempre fui assim. As noites frias estão me fazendo recordar uma época que talvez tenha sido a melhor época que vivi como libertino. O tempo em que existiu a boate Red Light, numa ruela da Praça da Bandeira, região central do Rio. Uma casa que, de certa forma, ajudei a fundar com outros dois amigos. Tenho certeza de que muitos dos antigos boêmios do Hot-Fórum lembram-se e sentem saudade.

Em um fim de tarde qualquer, eu e um parceiro fomos tentar alocar, para uma festa do antigo Hot-Fórum, uma boate que estava fechada, mas que o dono se mostrou receptivo à ideia de abrir para a comemoração. Não fazia muito tempo, havíamos revolucionado o mundo dos fóruns, retirando do comando do site de um grupo decrépito que por muitos anos tiranizou os foristas. Criei um chamado que fez sucesso: “AGORA O FÓRUM É DOS FORISTAS”. Houve quem ficasse feliz, mas também provocamos as velhas almas recalcadas, os corvos que torcem contra os espíritos rebeldes. Não teve jeito, tomamos o Hot-Fórum, muito com a minha ajuda, através de uma guerra que travei por anos na intenção de libertar o espaço. Foi uma vitória histórica que mudou a história dos fóruns do gênero.

Precisávamos de uma festa. Isso foi pelos idos de 2012. Durou pouco, mas foi a Belle Époque da libertinagem. Odiado e amado, foi um período que expandiu a minha glória como libertino, glória que eu trazia desde a aproximação com a Boate Mosaico, na mesma região. A Mosaico foi a semente da Red Light, uma semente que desabrochou com flores mais belas e perfumadas. “DANTE” já não era um nick, era marca. Acreditem, quem conhece sabe que não se constrói uma marca sem determinação, honestidade, talento e coerência.

Por ter sido muito perseguido nos antigos fóruns, por ter sido banido pelas administrações dos sem talento, que consideravam o meu estilo “espaçoso” demais para uma comunidade que se comunicava por textos, textos que eles preferiam nivelar pelos medíocres, criei três grupos durante a minha longa jornada. O primeiro surgiu ainda no saudoso Orkut, foi o “VILA MIMOSA VIP”. Acredite, forista sem fé, foi um sucesso absoluto, algo que até me assustou na época, muitos foristas nasceram desse grupo em muitos eu confiei para depois me decepcionar. Sou um péssimo julgador de caráter.

Com o nascimento da Red Light, criei “O CLUBE DOS PÂNDEGOS” e “OS INDOMÁVEIS” numa área restrita dentro do fórum, outro sucesso. O último grupo que fundei foi o dos “LIBERTINOS”, que depois afundou pelo pecado preferido do Diabo, a vaidade. Ainda tentaram roubar a marca, mas fracassaram. Todas as minhas inciativas carregavam a intenção de agregar, de quebrar paredes, abolir preconceitos e consegui atingir muitos desses objetivos por um período. De forma estranha, despertei ódios barulhentos, talvez pela pressão dos ressentidos com os êxitos alcançados por mim e pelos benefícios que muitas vezes eu ganhava por gerar vitórias. É da vida.

Digo a vocês, jamais vi tantas mulheres lindas surgirem num período como as que surgiram no início da Red. Muitas mulheres que começavam na vida quando entravam naquela boate. Certa vez, eu estava na entrada da casa e uma morena estonteante surgiu perguntando se ali era a Red Light, contou que nunca havia trabalhado como garota de programa, mas queria começar. Fui o primeiro a me deitar com ela, o primeiro cliente. Onde mais eu poderia viver isso?

Amigos se reuniam, falsos amigos também. Aprendam com este velho mundano, fóruns sobre sexo são feitos mais de falsos amigos do que de amizades sinceras. O apogeu da Red Light talvez não tenha durado mais de um ano, mas foi um ano intenso, foi um ano a mil. Havia o cartão vermelho, quem recebia podia comer mulher no fiado. É verdade. A boate era reverenciada por quase todos. Digo quase, pois sempre existem os chatos de plantão, os críticos mal-amados.

Nunca fiz mais de 3 amigos em fóruns, o resto eu poderia comparar com o Senado Romano nos tempos de Júlio César. Libertinos são do bem, mas putanheiros são ordinários. Libertinos são raros, raríssimos. Dentro da Red, por uma convergência de energias positivas, todos eram amigos, todos compartilhavam, a felicidade fez residência na Red no ano em que aquele espírito sublime de alegria se manteve aceso. Com o fim da sociedade que a sustentava, a boate decaiu, parei de frequentá-la, se tornou imediatamente triste e foi tomada pelas hienas hidrófobas que antes não a frequentavam, pois sentiam-se humilhados por um sucesso que cultivei. Deixou de ser uma ilha de prazeres e beldades na estreita rua Pereira de Almeida, tornou-se gueto.

Após a decadência, quando eu passava diante da entrada, uma tristeza imensa me invadia. A Red foi do céu ao inferno, mas deixou uma lição. É possível criar uma coletividade, um grupo de pessoas que por um tempo comunguem da amizade, da boemia e do desejo de felicidade. A Red foi a representação mais pura do hedonismo. Amores nasceram na Red, casamentos nasceram na Red, talvez até filhos tenham nascido na Red. Foi um lar libertino.

À noite, eu estacionava meu antigo Sucatão na rua do Matoso, bebia uma cerva no bar da esquina da Pereira de Almeida, comia um churrasquinho em frente ao Motel Málaga e partia para a boate. A boemia não tinha fim. Foram madrugadas consecutivas, sexo diário. Fundou-se o primeiro “Fumódromo”, onde a galera se reunia com as meninas e o papo corria solto, sem censura. Se você não conheceu a Red nesse tempo, só posso lamentar, afeiçoado forista. A Red Light foi a glória da Praça da Bandeira.

CLUBE MV30

CLUBE MV30

Começo pelo Clube MV30 os meus comentários sobre boates eróticas do Centro do Rio. Geralmente, os bordeis e boates eróticas no Rio de Janeiro gostam e gostavam de usar a denominação de clubes, o que não deixa de ser verdadeiro, pois são clubes fechados para o um público masculino que busca mulheres que trabalham para atendê-lo de forma íntima.

Conheci a MV30 em 1993, eu era funcionário em uma grande estatal na Praça Mauá e fui levado por um amigo até o paraíso camuflado da Rua Mayrink Veiga. Era uma época em que o Centro fervilhava de gente, de pontos de lazer, bares, uma realidade absurdamente diferente da atual.

A MV30 ficava próxima ao famoso Beco da Sardinha, que agora também sofre os reflexos da decadência do Centro do Rio. O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) somado a uma política talvez errática da prefeitura, que restringiu profundamente as vagas de estacionamento para carros nas ruas e avenidas, certamente foram fatores que cultivaram a desertificação que vemos hoje.

Em 1993, a MV30 ainda pertencia a um português talentoso no ramo, a casa transbordava de gente todos os dias, uma quantidade relevante de mulheres bonitas desfilava seminua, fazendo com que os clientes se espremessem entre essa presença feminina. Um clima de flerte e euforia funcionava como elemento viciante que ajudava a fidelizar o retorno dos homens que frequentavam o local.

Visitei essa boate por quase toda a década de 90 e emendei minhas visitas também neste novo século. Em determinado momento, o proprietário original, o tal português, migrou para outra boate que começava a se estabelecer, a Quatro por Quatro, na Rua Buenos Aires, que se tornaria referência internacional.

Não me lembro ao certo em que parte da linha do tempo a MV30 começou a decair, provavelmente no início deste século, mas a decadência se deu em progressão geométrica e hoje é um estabelecimento que sobrevive ofegante fincado na área que se tornou a mais desolada do Centro da Cidade. 

Quando dissertamos sobre casas como a MV30, só temos como transmitir uma atmosfera nostálgica. As boates apelidadas como Termas decaíram de forma geral em solo carioca, algumas fecharam as portas e outras, como a MV30, apenas sobrevivem. São espaços imensos que se tornaram elefantes brancos com a queda brusca de receita, com o efeito devastador da pandemia.

Confesso que sinto saudade das tantas noites em que me diverti, em que conheci mulheres belíssimas, de um lugar em que compartilhei muitos prazeres na companhia feminina. Sinto saudades, mas não vontade de voltar ao que é hoje.

Os gestores cariocas desse tipo de boate são poucos criativos, não se adaptaram corretamente às transformações do tempo, às modificações de um mercado transformado pela Internet, pelas Redes Sociais e pelo esvaziamento comercial e empresarial do Rio. Ficaram num passado em que abriam a porta e contavam dinheiro. Não se importavam em conquistar e fidelizar clientes, tudo acontecia sem muito esforço.

Os tempos mudaram, mas quem gerencia esses locais manteve a mente fechada e sente dificuldade em sustentar estruturas que se tornaram maiores do que a receita que geram. As grandes Termas representam uma época que se foi, que ecoa poucas possibilidades de retorno, sofreram a erosão implacável do tempo. É triste, há muita melancolia em assistirmos a morte de cenários que pertenceram à nossa biografia, mas seria pior seria negar a realidade.

Bar das Quengas (Lapa) — Um obituário

BAR DAS QUENGAS — UM OBITUÁRIO

Quando um bar fecha as portas definitivamente, é certo que algumas almas se tornam. Foi isso que senti ao me deparar com o icônico Bar das Quengas fechado em uma noite de sexta-feira. 

Localizado fora do eixo caótico do baixo Lapa, ele estava fincado mais para o lado da Praça da Cruz Vermelha, uma face da Lapa muito mais pacata e, inclusive, mas agradável para beber. Um bar não significa somente o encontro com o outro, ele pode ter mais relevância no encontro com o nosso próprio eu. Não me incomodo de sentar-me para beber sozinho e vejo muitos boêmios que também praticam o esporte do copo solitário.


Beber sozinho nos induz aos momentos de reflexão, de contemplação, de auditoria sobre a existência. Nunca tive restrições à minha companhia, portanto, jamais me restringi ao prazer de me embebedar sem a segunda ou terceira pessoa. Na verdade, beber é um prazer que se potencializa quando estamos sozinhos.
 

Todos os bares são templos budistas para o libertino. 

Acompanhei a evolução do estabelecimento que nos seus últimos anos se transformou no Bar das Quengas. Antes da ressurreição da Lapa, o que havia ali era um legítimo boteco do estilo pé-sujo, frequentado por ébrios como eu, por garotas de programa e, principalmente, por travestis. Do outro lado da esquina onde ele estava, uma barraquinha de cachorro-quente consolava os estômagos vazios e maltratados pelo álcool. Tratava-se de um point underground, no seu mais puro significado. Com o avançar da madrugada, brotavam os gays que saíam de uma boate chamada Gayligula (o nome é um filé de originalidade) instalada na Rua Ubaldino do Amaral. 

Talvez, esse lado mais zen da Lapa esteja encontrando dificuldades na sobrevivência, pois o Bar das Quengas arriou as portas e o botequim Beco da Noite pôs o ponto à venda. Duas referências boêmias muito mais relevantes do que qualquer bar da moda no entorno dos Arcos. Uma pena.  

No meu caso, ficou um imenso vazio, pois eu me sentava regularmente diante de uma das mesas colocadas na calçada e passava horas tomando o meu uísque e saboreando algum petisco. Adorava meditar ali, um desses deleites raros e reservados que me proporcionei por diversas vezes. Perdi uma das ilhas prediletas onde eu naufragava.

O Bar das Quengas nunca foi um bar de preços justos, tudo ali era caro, mas eu não me importava em pagar, pois havia a retribuição de um prazer e de um bom atendimento que não encontro em qualquer mesa por aí.

 Às vezes, me parece que a única função do tempo é a de exterminar tudo ao nosso redor até, também, nos exterminar quando só nos resta o desgosto. O que me sobra agora é encontrar outro templo que me receba e abrigue com aconchego os meus mais profundos pensamentos. Que o Bar das Quengas repouse em paz.