Red Light, a glória da Praça da Bandeira
Não sei se é a idade que nos deixa nostálgicos ou, no meu caso, se sempre fui assim. As noites frias estão me fazendo recordar uma época que talvez tenha sido a melhor época que vivi como libertino. O tempo em que existiu a boate Red Light, numa ruela da Praça da Bandeira, região central do Rio. Uma casa que, de certa forma, ajudei a fundar com outros dois amigos. Tenho certeza de que muitos dos antigos boêmios do Hot-Fórum lembram-se e sentem saudade.
Em um fim de tarde qualquer, eu e um parceiro fomos tentar alocar, para uma festa do antigo Hot-Fórum, uma boate que estava fechada, mas que o dono se mostrou receptivo à ideia de abrir para a comemoração. Não fazia muito tempo, havíamos revolucionado o mundo dos fóruns, retirando do comando do site de um grupo decrépito que por muitos anos tiranizou os foristas. Criei um chamado que fez sucesso: “AGORA O FÓRUM É DOS FORISTAS”. Houve quem ficasse feliz, mas também provocamos as velhas almas recalcadas, os corvos que torcem contra os espíritos rebeldes. Não teve jeito, tomamos o Hot-Fórum, muito com a minha ajuda, através de uma guerra que travei por anos na intenção de libertar o espaço. Foi uma vitória histórica que mudou a história dos fóruns do gênero.
Precisávamos de uma festa. Isso foi pelos idos de 2012. Durou pouco, mas foi a Belle Époque da libertinagem. Odiado e amado, foi um período que expandiu a minha glória como libertino, glória que eu trazia desde a aproximação com a Boate Mosaico, na mesma região. A Mosaico foi a semente da Red Light, uma semente que desabrochou com flores mais belas e perfumadas. “DANTE” já não era um nick, era marca. Acreditem, quem conhece sabe que não se constrói uma marca sem determinação, honestidade, talento e coerência.
Por ter sido muito perseguido nos antigos fóruns, por ter sido banido pelas administrações dos sem talento, que consideravam o meu estilo “espaçoso” demais para uma comunidade que se comunicava por textos, textos que eles preferiam nivelar pelos medíocres, criei três grupos durante a minha longa jornada. O primeiro surgiu ainda no saudoso Orkut, foi o “VILA MIMOSA VIP”. Acredite, forista sem fé, foi um sucesso absoluto, algo que até me assustou na época, muitos foristas nasceram desse grupo em muitos eu confiei para depois me decepcionar. Sou um péssimo julgador de caráter.
Com o nascimento da Red Light, criei “O CLUBE DOS PÂNDEGOS” e “OS INDOMÁVEIS” numa área restrita dentro do fórum, outro sucesso. O último grupo que fundei foi o dos “LIBERTINOS”, que depois afundou pelo pecado preferido do Diabo, a vaidade. Ainda tentaram roubar a marca, mas fracassaram. Todas as minhas inciativas carregavam a intenção de agregar, de quebrar paredes, abolir preconceitos e consegui atingir muitos desses objetivos por um período. De forma estranha, despertei ódios barulhentos, talvez pela pressão dos ressentidos com os êxitos alcançados por mim e pelos benefícios que muitas vezes eu ganhava por gerar vitórias. É da vida.
Digo a vocês, jamais vi tantas mulheres lindas surgirem num período como as que surgiram no início da Red. Muitas mulheres que começavam na vida quando entravam naquela boate. Certa vez, eu estava na entrada da casa e uma morena estonteante surgiu perguntando se ali era a Red Light, contou que nunca havia trabalhado como garota de programa, mas queria começar. Fui o primeiro a me deitar com ela, o primeiro cliente. Onde mais eu poderia viver isso?
Amigos se reuniam, falsos amigos também. Aprendam com este velho mundano, fóruns sobre sexo são feitos mais de falsos amigos do que de amizades sinceras. O apogeu da Red Light talvez não tenha durado mais de um ano, mas foi um ano intenso, foi um ano a mil. Havia o cartão vermelho, quem recebia podia comer mulher no fiado. É verdade. A boate era reverenciada por quase todos. Digo quase, pois sempre existem os chatos de plantão, os críticos mal-amados.
Nunca fiz mais de 3 amigos em fóruns, o resto eu poderia comparar com o Senado Romano nos tempos de Júlio César. Libertinos são do bem, mas putanheiros são ordinários. Libertinos são raros, raríssimos. Dentro da Red, por uma convergência de energias positivas, todos eram amigos, todos compartilhavam, a felicidade fez residência na Red no ano em que aquele espírito sublime de alegria se manteve aceso. Com o fim da sociedade que a sustentava, a boate decaiu, parei de frequentá-la, se tornou imediatamente triste e foi tomada pelas hienas hidrófobas que antes não a frequentavam, pois sentiam-se humilhados por um sucesso que cultivei. Deixou de ser uma ilha de prazeres e beldades na estreita rua Pereira de Almeida, tornou-se gueto.
Após a decadência, quando eu passava diante da entrada, uma tristeza imensa me invadia. A Red foi do céu ao inferno, mas deixou uma lição. É possível criar uma coletividade, um grupo de pessoas que por um tempo comunguem da amizade, da boemia e do desejo de felicidade. A Red foi a representação mais pura do hedonismo. Amores nasceram na Red, casamentos nasceram na Red, talvez até filhos tenham nascido na Red. Foi um lar libertino.
À noite, eu estacionava meu antigo Sucatão na rua do Matoso, bebia uma cerva no bar da esquina da Pereira de Almeida, comia um churrasquinho em frente ao Motel Málaga e partia para a boate. A boemia não tinha fim. Foram madrugadas consecutivas, sexo diário. Fundou-se o primeiro “Fumódromo”, onde a galera se reunia com as meninas e o papo corria solto, sem censura. Se você não conheceu a Red nesse tempo, só posso lamentar, afeiçoado forista. A Red Light foi a glória da Praça da Bandeira.