Swing 2a2

Swing 2a2

O mundo do libertino é mais refletido à noite, é um território estendido que envolve outras modalidades de volúpias e meretrícios. É uma zona de surpresas e perigos.

Estava ansioso, esperando a morena que conheci pelo Tinder, o nome do registro é Pâmela. Como tantas outras cadastradas nesse aplicativo, Pâmela não se assume como garota de programa, diz que dá preferência para sair com quem gosta de mimar. Além dessa regra, ela diz que precisa rolar química, que eu entendi que só ocorre de acordo com o valor oferecido. Apelidei essa camuflada categoria de mulheres promíscuas de Sugar-Money.

Eu só tinha visto fotos. Fotos, dependendo do peso dos filtros, fazem qualquer jacaré se parecer com a Beyoncé. Ainda fico nervoso com esses encontros, no último deles conheci Tice, que até pude apresentar para uma rapaziada presente no Bar do Zezé, uma menina que me surpreendeu positivamente. Agora, esperava Pâmela em um bar da Praça Varnhagem, na feérica rua Almirante João Cândido Brasil, coração noturno da bucólica Tijuca. Disse-me ter 22 anos. Estava atrasada.

Eu me vesti de forma clássica. Como sempre digo, sou um britânico exilado nesses trópicos de manadas obtusas. Subitamente, uma morena exponencial atravessa o salão emoldurada por um vaporoso vestido vermelho cuja fenda em uma das pernas revelava a amostra da coxa afrodisíaca, ela me encarava como um matador de aluguel contratado para me fuzilar. Era Pâmela.

— Dante? — ela me pergunta.

— Sim. Dante, me chamo Dante.

Pâmela sorri e se senta sem cerimônias.

— Posso pedir um gim? — me lança na lata.

Assenti. Gim é uma febre feminina que chegou para falir um homem durante os encontros românticos, uma bebida cara, servida numa taça que parece banheira de Sabiá, carrega a única vantagem de embriagar com suavidade a vítima do nosso cortejo.

Na terceira dose de gim, acionei a calculadora do celular para estimar o prejuízo. Eu seguia devagar no meu uísque, esperando o álcool desativar alguma possível desconfiança da garota. Aguardei a quarta dose para dar início à conversa que revelaria o meu real objetivo.

— Estou com vontade de ir a um swing? Já foi? — a sorte estava lançada.

— Swing? Fui em um da Barra uma vez. Gostei — Pâmela responde.

— Quer me fazer companhia hoje?

— Depende? Vai me mimar?

— Topa por 250?

Pâmela frisa os olhos, titubeia e eu emendo…

— Pô, faz por 250. Assim consigo sair outras vezes com você.

— Aonde quer ir?

— No 2A2, em Botafogo.

— Agora?

— Agora — decretei.

Considero Botafogo um dos bairros mais irrelevantes do Rio de Janeiro, perde para o Andaraí. Não é um lugar para o qual nós vamos, é um lugar por onde passamos. Por algum motivo, talvez pela discrição, o 2A2 decidiu se instalar em uma casa na fronteira de Botafogo com o Humaitá, a soma de duas irrelevâncias geográficas é menos drástica.

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A boate estava lotada, fila, mulheres jovens com roupas que fariam Madonna enrubescer. Não demoramos para entrar, deixo meus pertences num saco que é guardado pela recepção. De cara, avisto novinhas com seios delirantes à mostra. Pâmela pergunta se posso pegar outro gim, não olhei mais a calculadora, estava convencido de que o prejuízo seria grande.

Meu desejo de pegar uma daquelas novinhas exibindo os peitinhos-agulha conseguia ser maior do que o tesão para comer a Pâmela, de quem eu só conseguia ver uma das pernas exibidas pela fenda do vestido vermelho. Após a segunda dose de gim (somadas a mais 4 do percurso), sugeri à morena Pâmela que subíssemos ao andar da luxúria. Ela aceitou, já estava em um estado etílico avançado, creio que aceitaria até doar um rim se alguém sugerisse. Subimos.

O segundo andar estava pegando fogo, gente se agarrando, casais se comendo, gemeção, só faltava o cavalo de Calígula. Percebi que Pâmela estava excitada com a visão. De repente, senti um bafo quente no meu ouvido, alguém cochichou…

— Boa noite — uma voz rouca que me lembrou a do meu avô.

Quando giro o pescoço, me deparo com um casal na faixa dos 70 anos de idade, o velho baixinho calvo e a mulher cheia rugas e fios brancos na cabeça.

— Desculpe-me por incomodar, mas é que reparei que você é da nossa faixa etária…

— EU?! — admito, fiquei indignado, não estou tão acabado assim. Sou um idoso que se pensa jovem

— Sim, o senhor. Sua esposa é mais jovem, eu percebi…

— Ah! Eu gosto dos mais velhinhos — responde Pâmela se intrometendo.

— É que a minha esposa gostou do senhor e eu gostei da jovenzinha que é sua companhia. Será que podemos fazer uma brincadeira?

Não tive tempo de mandar o velho indecoroso para o inferno, Pâmela interferiu antes.

— Vamos, amor. É diferente. Eu quero — ela diz.

Quando dei por mim, estávamos sendo conduzidos a uma sala escura, eu mal enxergava os vultos. Ouvi o velho gemendo ao meu lado e sussurrando “ai, que boquinha gostosa… ai, que boquinha gostosa”. Na esteira, em um gesto de violência sem precedentes, a velha grisalha arriou a minha calça com a ânsia de uma noiva do Drácula buscando a pulsante jugular. Meu combalido pênis foi vampirizado. Comecei a me beliscar, acreditei que aquilo tudo era um pesadelo, me debatia para acordar como quem afunda em uma areia movediça. Não acordei.

Cai o pano 

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