DIÁRIO DE BORDO

DANTE E BEATRIZ

Se um drone realizasse uma panorâmica aérea, veríamos um minúsculo ponto se deslocando pelas calçadas semidesertas do Centro da Cidade, habitado somente por almas esquecidas dormitando sob as marquises. O minúsculo ponto é o libertino que caminha indômito, como quem cumpre uma missão, descobrir novos prazeres, encontrar novos bordeis, indo aonde o homem comum jamais esteve. Eis que vemos o libertino acompanhado da sua solidão, da sua essencial solidão, da sua indissociável solidão.

Saí tarde da bucólica Tijuca, a Lua cheia ia alta, imponente no céu, refletindo seu brilho prateado no verde adormecido dos alpes tijucanos. Acelerei o Sucatão e o ronco do motor abriu caminho através da poeira negra do asfalto. Insiro o pen drive no aparelho de som do carro e a música que brota das caixas é a mesma que ouvi dias antes na boate Palácio de Cristal, na Lapa.

I Wanna Go

Abro as janelas e deixo que o vento morno me atravesse, o corpo balança com as batidas do som, a vida passa como num filme frenético se descortinando no para-brisa. Quem pensou que eu desistiria, fracassou. Dante is alive. Estaciono na deserta rua Buenos Aires e finco minhas botas na calçada em direção a 65, na rua do Rosário. Quando fui me aproximando da entrada da Termas, tudo me pareceu tão desolado que desisti, dei meia volta e espichei meus passos até a Uruguaiana.

Subo os degraus do sobrado 210 e encontro a casa com pouquíssimo movimento, com mais carrancas do que mulheres. Uma mulata, que foi colossal no passado, que tanto maltratou meu coração, se aproxima para me cumprimentar, mal a reconheço, gordinha, cabelos desgrenhados, um ar de melancolia… o mundo gira e é redondo. Vejo uma novinha bunduda, bonita de rosto, pergunto se faz programa fora, pois não suporto os quartos da 210. Não faz. Não sobrou nada para ver na 210, ganho novamente as ruas.

Caminho até a rua da Alfândega, o relógio marcava 21h. Vou até o Clube 119, subo os infinitos degraus, quando alcanço o salão, quase as vias de um infarte, não havia ninguém, nenhuma mulher, apenas um sujeito com semblante depressivo bebendo à beira do balcão. Corri dali. Voltei ao Sucatão e à bucólica Tijuca. Entro em uma pizzaria e substituo os prazeres da carne pelo sabor de uma pizza brotinho de muçarela. Segunda-feira, definitivamente, não é dia de puteiro. Uma melodia transpirava como música ambiente: Moby – Extreme Ways.

Extreme Ways

Dante is alive.

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