Introdução ao diário libertino

Introdução ao diário libertino

A ciência se enganou, o universo não se expande, ele encolhe. Apenas a mente mais tacanha não constataria esse fato após um olhar superficial sobre o mundo. Meus parentes falecem, a família se extingue; meus amigos se dispersaram, dissipam-se; meus amores fracassaram; a maior parte do caminho ficou para trás e eu estou cada vez mais só neste crescente deserto claustrofóbico. Acho que a gente morre para não ficar deslocado.

Existir é padecer de duas fomes ancestrais, a do estômago e a da genitália. A primeira sustenta o corpo, a segunda perpetua a espécie. A mastigação e a cópula resumem o miolo central do precário sentido da vida.

Nunca me casei, não tive filhos. Sou uma aberração aos olhos rigorosos da Natureza. Um peão inútil. Fiz da comida o motivo para a minha gula e do sexo a razão da minha libertinagem. Aproximando-me da meia-idade, deliberei entregar-me aos instintos e banquetear-me enquanto fosse possível.

Através da Internet, pelos idos de 2000, esbarrei com um “Fórum” sobre prostitutas. Homens que relatavam suas experiências com gueixas contratadas para lhes oferecer prazer. Li com avidez uma centena de experiências, mergulhei embevecido naquelas aventuras libidinosas.

Não posso dizer que aqueles personagens escondidos atrás de Nicks fossem meus irmãos de infortúnio, havia uma distância espiritual entre mim e a maioria deles. No entanto, todos eram meus pares na decisão de exacerbar o desejo carnal. Desses fóruns, foi que construí meu diário, registrei os encontros e detalhei cada uma das descobertas promíscuas com as quais me deparei remexendo o lodo viscoso da vida fácil. Neste volume, exponho os momentos inesquecíveis que vivi.

Não esperem pensamentos herméticos e muito menos iluminações existenciais em meio a essas memórias. A luxúria é um fosso raso, um lugar comum. As filosofices só brotam após o coito. O orgasmo é substância concreta, descrita pelo vulgar, pelo imoral. Aos corpos nus não interessam as profundas reflexões, almejam meramente dissolverem-se no despudor.

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