O CLONE

O CLONE

— O senhor não é aquele ator da Globo? Aquele… Aquele antigo… Antigo, mas o senhor está bem de aparência, tá?… Francisco Cuoco. É o senhor, né? Tira uma selfie comigo?

Olhei ao redor para confirmar se mais alguém ouvia o absurdo que a menina de topless estava cometendo, não havia ninguém olhando. Aceitei fazer a selfie como Francisco Cuoco. Por que eu iria estragar um sonho?

— Minha vó não perdia as suas novelas. Até hoje ela comenta sobre o senhor.

Como o assédio começou a ficar um pouco inconveniente, dei boa tarde e subi ao próximo andar. Havia um movimento grande no local; uma quantidade maior de mulheres também, desde a minha última visita. O número de garotas jovens exibindo peitinhos-agulha é enorme. O topless virou um atrativo diferencial na Rua Uruguaiana, 24. Fui procurar uma garota com quem eu saí diversas vezes antes da pandemia, infelizmente não a encontrei. Trashes mais pesados como o 24 da Uruguaiana são um risco para o libertino idoso, muitas garotas ali fazem sexo como quem prepara um sanduíche de mortadela, vai no automático. Eu, no entanto, estava disposto a arriscar.

Subir todos os andares do prédio, girando naquelas escadas em caracol, é tarefa dura para os meus precários músculos cardíacos, mas fui indo. Cheguei a me imaginar levando uma barraca de camping para poder dar um intervalo de descanso entre um andar e outro. Este trash da Uruguaiana é um Pico Everest do sexo. A vontade, quando se chega ao último andar, é fincar uma bandeira e comemorar explodindo uma Chandon. De repente, vejo uma loirinha com um par de seios que pareciam um photoshop vivo, ela também me vê e sorri. Não precisei me aproximar, ela se aproximou (a coisa tá feia).

— Nossa. Como o senhor parece com aquele “repórti” da “Grobo”.

Tá de sacanagem, ser confundido com terceiros duas vezes no mesmo dia é demais, o florista vai dizer que é mentira. Acredite, forista sem fé, é verdade. Não é a primeira vez que acontece comigo.

— Que repórter, minha filha? — tento descobrir, mas já sei quem é.

— Num lembro o nome dele.

— André Luiz Azevedo? É esse?

— Esse! Esse! É o senhor??? Tá sumido.

Quando ela disse “está sumido”, não entendi. Se referia sumido da Globo ou do 24? Preferi não esticar o assunto e emendei na entrevista. A moça se mostrou receptiva, confirmou oral sem capa, beijo na boca e um anal se a ereção permitisse. Amélia é o nome que usa. É, você leu certo, o nome é Amélia. Decidi me embrenhar com ela numa das baias da boate. O problema do 24 é que as baias ficam no mesmo espaço da pista, então você faz sexo com trilha sonora, geralmente é Belo, Chitãozinho e Xororó, Anitta e outros bichos. É necessário manter uma concentração sobre-humana para a peteca não cair.

A menina iniciou o assunto com um boquete espetacular, viajei na Enterprise, entrei em velocidade de dobra e quase usei o teletransporte para o Éden antes do tempo. Segurei a onda dela antes que me causasse ejaculação precoce. Pedi para que ficasse de quatro. Quando eu ia meter, aumentaram o volume do som lá fora.

”Prepara que agora é a hora
Do show das poderosas
Que descem e rebolam…”

Puta que pariu. Dei uma rateada, mas Pikachu conseguiu reestabelecer a força auxiliar e alcancei a sagrada penetração. A menina gemia no ritmo do “Show das Poderosas” e eu fazia um exercício budista para não perder o pau ereto. Meti afobadamente, o objetivo era gozar com aquela batida sonora na minha cabeça, um desafio olímpico. Gozei. A menina se levanta, sai da cabine sem dizer nada (de praxe nesses locais) e eu me visto para ir embora.

Ganho as ruas e o anonimato, respiro aliviado. Caminho até a Casa do Café Capital, na nostálgica Av. Marechal Floriano, peço um cafezinho e me sento para contemplar a vida. Do outro lado do salão, um velhinho me encara como se me conhecesse…

— Porra. De novo não. 

Deixe uma resposta