Anhinhanha

ANHINHANHA

Disse-me um amigo, após saber deste relato, que eu deveria procurar uma benzedeira. Talvez, seja um bom conselho.

Tarde quente, o suor inevitável molhava meu rosto, estaciono o Sucatão e decido conhecer o tal Paraíso das Panteras, conforme denominava o painel exposto acima de uma casa. Para amenizar a sensação térmica, decidi tomar três doses cerveja antes de entrar, quis buscar inspiração. Meus poros ficaram sobrecarregados diante da quantidade de água que eu expelia pelo corpo. Mais um pouco e eu me tornaria a nascente de algum rio caudaloso.

Entrei na Termas. Ao passar pela recepção, disseram que eu não precisaria pagar entrada. Penetrei no salão penumbroso, era fim de tarde, não havia muitas meninas. Pelo que me informaram, o movimento forte começaria a partir das 19h30. Sentei-me, pedi um Red Bull para debelar a sede e uns petiscos para alimentar a fome. Fiquei observando o salão quase vazio e avistei uma loira ajeitada que me chamou a atenção. Consegui contato visual, mantive o flerte por uns cinco minutos e então ela se aproximou…

Cerca de 1,60m; falsa magra; pernas grossas; bundinha arrebitada; lábios carnudos; cabelos abaixo dos ombros; rostinho de anjo. Graciosa!

Oim – Ela me cumprimenta.

Sim, leitor sem fé! Como você, eu também senti uma leve entonação do M no final do OI, mas não dei importância. Afinal, o que é um minúsculo M diante de um tamanho Tesão?

– Tudo bem? – Respondo.

– Tundo! – Agora, foi um N que surgiu, talvez seguindo a regra do “antes de P e B.”

– Qual seu nome? – Emendo com outra pergunta.

– Anhinhanha – Foi isso que ela pronunciou.

– Qual?! – Peço um replay para tentar entender.

– ANHINHANHA! – Ela eleva o tom de voz.

O que fazer num momento desses? Qual manual ensina a nos livramos desse tipo de embaraço? Eu ainda não havia compreendido o nome da menina, no entanto, não tinha coragem de perguntar novamente.

– Diferente seu nome! Bonito! É de origem indígena? – Ah, hipocrisia! Doce hipocrisia, como a vida seria mais amarga sem as suas sábias intervenções.

– Oncên anchã? Que nhada! Tão comum nheu nhome!

Era o início do meu pânico, eu não conseguia compreender o estranho dialeto nasalado que brotava daqueles lábios tão delicados. Porém, meu cavalheirismo e minha esmerada educação me obrigavam a agir como se tudo aquilo fosse a manifestação mais límpida da língua portuguesa.

– In o seun? – Ela desejava saber meu nome.

– Dante. Prazer!

– Jã conhenhia a cãsan?

– Como? – Tive que perguntar de novo.

– Jã conhenhia a cãsan?

Refleti por uns segundos para decodificar…. Ela me perguntava se eu já conhecia a casa! Era quase uma emoção traduzi-la.

-Não. Primeira vez!

-Tã gostanho?

O que seria gostanho? Gostando! É isso!

– É legal! Gostei! – Respondo para agradar.

Não precisei de muito mais para saber que a loira, além de gostosa, era fanha. Sim, incrédulo leitor, a loira era fanha! Nem no paraíso encontramos a perfeição, esbarrei com uma pantera fanha dentro do Paraíso das Panteras.

Prosseguir naquele diálogo estava me causando náuseas, era como manter o cérebro ligado a um tradutor simultâneo. Preferi encurtar o caminho e avisei que gostaria de ficar com ela. A menina abriu um sorriso que me fez perdoar todos os tiles (~), emes e enes que recheavam sua linguagem quase incompreensível. Fomos para o quarto. As dimensões eram pequenas, mas havia o conforto básico. Minha cabeça girava pelo efeito da bebida. Sem a roupa, o corpo da garota me impressionou ainda mais. Seios firmes, chana completamente depilada, bumbum emoldurado numa marquinha de biquíni minúscula. Beijos, boquete, bolinação. A menina era quente! Fica de quatro e tenta me provocar.

-Menhe na sua canchõrra! – Tradução: Mete na sua cachorra.

Aquele idioleto nasal estava me enlouquecendo, decidi precipitar o fim do encontro: meti!

– Aim, aim! Isso, come nhua canchõrra! Aim! Aim!

Sim, colega leitor! Eu concordo! Isto é incrível! A puta era fanha até para gemer! O gemido da mulher parecia grito de cachorro espancado, aquelas onomatopeias que vemos nas revistas de quadrinhos: caim, caim…. Eu me senti sodomizando o Bidu, o personagem canino da Turma da Mônica.

A tragédia se fez, não consegui gozar! A cada “aim” que a moça proferia, emergia a imagem do Bidu em minha lembrança. Joguei a toalha!

– Não vaim gonza? Gonzaaaan, gostonso! – Insistiu a fanha.

– Não estou bem…. Bebi muito! Estou cansado. – As velhas desculpas de quem só ansiava por fugir.
Paguei a conta, mas continuava intrigado. Não conseguia traduzir o nome da menina. Arrisquei perguntar mais uma vez.

– Desculpa, me repete seu nome? Esqueci…

– Ponxã! Jã esqueceum! É Anhinhanha!

– Ah! Ta! Não esqueço mais! – Eu não poderia esquecer o que continuava sem entender.

Mas de que vale um nome? Resgatei o Sucatão e voltamos a sobrevoar o negrume do asfalto da Av. Suburbana.

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