O índio

O índio

A NOITE

VÊNUS

O fusca deslizava impune ao som de Shocking Blue (Venus), o clima ameno do começo da noite empolgava os pneus e o meu castigado coração. Por alguma conjunção extraordinária, a minha libido estava em nível altíssimo, um tesão de garoto me tomou naquela semana. Pikachu queria reviver os tempos áureos da adolescência, sem cometer a ejaculação precoce. A Lua cheia estampando o límpido céu noturno quase me fazia uivar. Atravessei o tapete de miséria da Av. Presidente Vargas, estavam preparando uma passeata: “Faça amor, não faça arminha”, “Viva o maluco beleza, fora os doidos de farda”, “O mundo é gay, não é gado”. Placas com inusitados chamados se erguiam aos poucos, talvez fosse difícil estacionar pelo Centro, acelerei na esperança de conseguir uma vaga. Para evitar ouvir os jingles de passeata, aumentei o som e encaixei um CD do Bryan Ferry.

Bryan Ferry

Assumo, afeiçoado leitor, eu estava entusiasmadíssimo, havia vibrações positivas na atmosfera. Restou-me estacionar o heroico fusca na rua Mayrink Veiga e de lá caminhei para o Clube Afrodite, na rua Uruguaiana. Após escalar os degraus do sobrado, chego sem fôlego ao andar onde fica a boate. A casa sempre me surpreende pela quantidade de novinhas no salão, pedi uma cerveja, um Red Bull e sentei-me no primeiro espaço livre que encontrei. Rolava um detestável pagode como trilha sonora. Avistei uma ninfeta que há muito eu estava mirando, bronzeada, cabelos curtos, seios pequenos apontados para espaço sideral e uma bela bundinha arrebitada. Fiz um gesto e ela se sentou ao meu lado, realizei a entrevista. Lucy é seu nome, concluímos nosso acordo sexual e pedi uma alcova.

Recebo a chave e sou conduzido pelo corredor lúgubre onde ficam as cabines da Afrodite, por algum motivo inexplicável aquilo me remeteu à imagem de um corredor da morte. A menina me acomodou numa das baias, disse que iria pegar seus equipamentos e retornaria. Fiquei aguardando naquele ponto negro e esquecido do universo, mas logo a garota voltou. Não perdeu tempo, tirou os trapos que a cobriam e revelou um magnífico e reluzente corpo jovem. Peço que ela se deite e caio afobado com a boca nos seios perfeitíssimos, ela acaricia a minha cabeça enquanto eu lambia os biquinhos rosados. O breve Pikachu roçou de leve na vagina úmida da mulher, ela não refugou. Tudo ia bem, mas aconteceu o inesperado.

— Moço — quer acabar com o meu tesão é me chamar de “moço”, ela chamou.

Preferi ignorar, mas ela insistiu.

— Moço, moço — a voz se elevou.

— O que é, minha filha. Estou te machucando?

— Ai, moço. Tem um índio atrás de você.

Acredite, forista sem fé, neste momento eu me transformei no Homem-Aranha. Dei um salto e quase grudei no teto. Imaginei um índio velho nas minhas costas, salivando para me currar. Após o susto, olhei em volta e não vi nada.

— Porra. Que índio, minha filha? Cadê o índio?

— Moço, tem um índio andando contigo. Sou “mãe de santo” [sic] e estou vendo.

A trepada acabou ali, estimado colega. A garota alegou que não conseguia meter com o meu índio voyeur olhando, mas me pediu para não cancelar o programa nem comentar sobre as “suas habilidades extrassensoriais”. Coração de velho é sentimental, relevei a cena e preferi esquecer, pois o programa estava pago. Vesti a minha roupa e deixei o lugar.

CLUBE 502

Corri pela av. Marechal Floriano como freira fugindo de um tarado pagão, tudo deserto e escuro, os poucos seres que andavam por ali deviam estar caçando morcego para procriação. Atravessei a av. Presidente Vargas decidido a tentar a última cartada na 502. Outro lance imenso de escadas, os antigos libertinos não morrem na cama, infartam em algum degrau do Centro da Cidade. Boate vazia, só ficou povoada por volta das 20h30. Uma carrapata veio para o meu lado e não me libertou antes de consumir três cervejas por minha conta. Enquanto isso, vi uma loira descomunal ir e voltar umas três vezes, antes de subir com um coroa barrigudo. Fiquei fissurado na mulher de cabelos platinados, me forcei a esperar o seu retorno. Como a sorte nem sempre me sorri, creio que esperei mais de uma hora assistindo às tediosas partidas de sinuca no antigo fumódromo. Eis que ela ressurge, me encara com um olhar sensual e senta-se ao meu lado.

— Qual seu nome? — pergunto.

— Suzy.

— Acho que nunca esperei tanto por uma mulher. E o que você não faz, Suzy? — solto a pergunta cretina.

— Só não sou de agredir ninguém.

A FÊMEA

Conversamos um pouco, ela me tasca um estonteante beijo de língua no meio da pista. Resistir é inútil, pedi uma hora de alcova. Afeiçoados, a Suzy é um tesão, um tornado sexual. Que mulher espetacular. Beija, chupa, fode como louca, geme e até elogia pau pequeno. É perfeita. A pegação rolou e Pikachu viveu momentos antológicos. Depois de muita agarração, posições exóticas, Suzy ficou de quatro e eu penetrei naquele templo ajoelhado, fazendo reverências no interior daquela boceta como um crente que entra numa catedral. O gozo foi oração. Que fodão.

Suzy me contou seu vasto currículo, trabalhou na Rio’s, na MV30, na 65, agora está na 502, espero que permaneça. Voltei a atravessar correndo a Presidente Vargas como um padre fugindo de canibais. Alcancei o fusca, girei a chave, inseri um CD e o som iluminou as trevas.

Seal – Crazy

Acredite, a partir de agora qualquer aventura é possível.

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